Casos como o da administradora, que fundou uma startup em Florianópolis, inspiram novas empreendedoras a entrar no universo ainda predominante masculino da TI
FABRÍCIO UMPIERRES RODRIGUES, ESPECIAL PARA O NOTÍCIAS DO DIA, FLORIANÓPOLIS
– ATUALIZADO EM 19/01/2018 ÀS 17H25
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O universo das startups brasileiras ainda é predominantemente um clube masculino: quase 40% das jovens empresas que criam soluções inovadoras com potencial de crescimento em escala são formadas exclusivamente por homens. É o que mostra a pesquisa “Radiografia do Ecossistema de Startups”, organizada em 2017 pela Associação Brasileira de Startups e a consultoria Accenture e que ouviu mais de mil empresas com este perfil. De outro lado, as equipes formadas apenas por mulheres correspondem a 3% do total de startups do país.
À frente do próprio negócio, Marcela Graziano encoraja mulheres a empreender – Smarket/Divulgação/ND
Em Santa Catarina, as mulheres representam 25,5% dos empreendedores do setor de TI, aponta estudo divulgado no ano passado pela Associação Catarinense de Tecnologia (Acate). O debate sobre a participação feminina na área gerou algumas iniciativas no estado como o Coletivo Anitas, a realização de eventos como o Startup Weekend Women, que estimulam mulheres a conhecer o ambiente de novos negócios e desenvolver projetos e serviços inovadores, e os encontros Rails Girls Floripa, unindo interessadas de todas as idades e áreas em aprender linguagens de programação.
“As meninas não são incentivadas a entrar no universo de exatas. Este é um problema de base”, conta a administradora Marcela Graziano Viegas que, mesmo sem experiência ou conhecimento técnico de programação e sistemas, foi à luta para criar sua própria startup. Formada em 2011 na Esag, ela inicialmente fundou uma empresa que prestava serviços de marketing para empresas do varejo em Florianópolis.
Mas o dia a dia de criar promoções, definir preços e produzir tablóides para uma grande rede de supermercados local era insano: “havia muitas pessoas fazendo tarefas operacionais com risco muito alto de erro e, mesmo com todo o controle e as revisões que fazíamos, sempre passava alguma informação errada. A solução era procurar alguma ferramenta que automatizasse esse processo, só que eu não encontrei nada, nem fora do Brasil”. Marcela então fez uma proposta ao cliente: ela ficaria responsável por desenvolver um sistema e a empresa usaria como projeto piloto. O negócio foi fechado e assim nasceu, em 2013, o embrião da empresa que ela comanda hoje em Florianópolis, a Smarket Solutions, uma plataforma para automatizar promoções para o varejo. São 13 clientes, entre supermercados e drogarias de diversos estados (Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo, Pernambuco, Goiás e Roraima) que têm faturamento somado de R$ 12 bilhões.
“Eu não era da área de tecnologia, não entendia nada e nem me sentia confortável para selecionar um programador”, lembra. A saída foi começar a estudar o mercado e contratar uma fábrica de software, por indicação de uma amiga, para desenvolver a primeira versão do sistema. Dois anos depois, em 2015, a Smarket foi selecionada para o programa de capacitação StartupSC, que levou Marcela e outros empreendedores locais para uma feira internacional em San Francisco onde ela apresentou a plataforma e estudou soluções do varejo norte-americano. Em 2016, a chegada do sócio e diretor de tecnologia Paulo Silva marcou um novo momento para a empresa, que desenvolveu uma terceira versão do software, capaz de atender à demanda de crescimento em escala.
Depois de ter sido por anos empreendedora solitária e hoje liderar uma equipe de 12 pessoas, Marcela também se dedica ao propósito de encorajar mais mulheres a entrar na área de TI: faz parte do coletivo Anitas, foi mentora no último Startup Weekend Women e sempre que pode participa de palestras e encontros sobre o tema. “No ambiente de tecnologia há muitas iniciativas acontecendo para unir perfis diferentes. Sou bem engajada, porque acredito que é um dever com a sociedade”, ressalta.